domingo, 20 de outubro de 2013

Negro x Preto.

Uma das experiências que vivi e que foram sim marcantes para mim foram as cinco vezes em que fui assaltado na cidade de São Paulo, onde em todas as vezes, os assaltantes eram negros.
Eu teria absolutamente tudo para virar e me tornar mais um racista, mais um preconceituoso nesse Brasil tão racializado no chicote sutil, mas ao contrário disso, fui estudar e compreender o processo da desigualdade do país e passei a entender que eles não são totalmente culpados pelo que fizeram, há uma hierarquia muito grande da brancura no nosso país marjoritariamente negro, aliás, negro não, preto, temos que parar de tentar utilizar palavras para amenizar uma palavra que soa tão ruim em bocas cristãs, a cor preta não é uma cor ruim, ela é linda, alguém já estudou a origem do Universo? Alguém já conseguiu compreender por que marjoritariamente o universo é preto e que a vida surgiu da cor preta? É uma cor fascinante, não obscura, não feia, é linda, enquanto continuarmos com o misticismo de tornarmos "negro" uma cor, o preconceito continuará pairando no cenário em que vivemos, claro que não é o único motivo pelo qual o preconceito existe e é isso que eu gostaria de retomar antes do insight que tive entre as palavras preto e negro, pois bem, o privilégio da brancura existe e isso soa meio esquizofrênico quando é dito por um branco? Não. Totalmente não. Isso é o reconhecimento de que permanece na sociedade privilégios àqueles que nascem brancos e que eu faço parte deles e não me sinto privilegiado em deixar uma camada grande da sociedade esquecida atrás de chicotes que são hoje sutis, digo isso pois o preconceito racial hoje já não é mais aquele dito de forma esclarecida, o preconceito está entranhado dentro da formação familiar do nosso Brasil e não digo isso do modo PSC de ser, digo isso pautado nas normas que nos são transmitidas e isso é um discurso recorrente meu pois parece que as pessoas se esquecem que somos normatizados desde que somos presenteados com o dom da vida.
Como disse no início desse texto, eu teria tudo para me tornar uma pessoa preconceituosa, uma pessoa despreocupada com as questões que tornam o nosso país cada dia mais indiferente com sua sociedade, mas não, isso tudo me intrigou a buscar, a compreender os motivos que levam o Brasil ser como é hoje, do preconceito racial estar institucionalizado desde as nossas casas até a tripartição de poderes do nosso Estado, o problema não se encontra somente na questão da palavra negro e preto, ele é muito mais amplo, é muito mais complexo e está entranhado nos privilegiados e mesmo naqueles que não são privilegiados, o ser privilegiado por ter nascido de jeito x, y, z devia envergonhar-se, como eu, de ter tais privilégios, já que são eles que tornam o Brasil tão desigual a cada hora que passa.
É uma reflexão que venho tendo nos últimos tempos e que tem me causado certo desconforto, tenho me sentido meio enojado ao ver que o racismo se encontra nos mais pequenos espaços aos mais grandes palácios, e que a causa disso tudo é um país desigual que se mantém desigual por gostar de privilégios, por gostar de armar-se contra ao invés de armar-se à favor, com luta e reconhecimento.

Helton Hissao Noguti.