domingo, 27 de dezembro de 2015

Possibilidades

Há algum tempo decidi deixar esse blog inativo, não via mais motivos para continuá-lo, a correria do dia a dia me impedia de continuar a escrever, até para refletir estava um tanto difícil, até que, por esses dias (deve ser culpa do tempo morno e do canto das cigarras), pensei: Poxa, quanta "página" em branco eu deixo passar tendo tanta coisa para falar, quanta possibilidade extinta na mera falta de vontade de vir, abrir, pensar e escrever, quantas palavras perdidas que juntas poderiam tocar outra pessoa ou mesmo me fazer refletir. Talvez ao ver o Reino das Palavras queimar, junto com toda história daquele prédio que sedia a Estação da Luz, is me trouxe uma reflexão que eu não tinha há algum tempo...Pensei nas possibilidades que eu estava perdendo ao deixar esse blog assim, sem nada..E aí..Bom! E aí que eu me toquei de quantas possibilidades nós perdemos ao longo da vida! Somos feitos de escolhas, as escolas geram possibilidades.. Vocês já pararam pra pensar no quanto de possibilidade incrível vocês deixaram de ter por conta de um não dado? Ou pela falta de empenho em algo que poderia resultar em algo super maneiro? Ou pelo livro que está nesse momento guardado no cantinho da sua prateleira empoeirada que está à espera de ser lido e lhe causar angústias e reflexões maneiríssimas que poderiam resultar em algo mais maneiro ainda?

Poisé! As possibilidades estão em todas as partes em todos os cantos, eu, por exemplo, poderia ter escolhido não escrever esse texto por conta de todas as dificuldades que tive até conseguir abrir essa página, o destino tava parecendo não colaborar, sério! E quando falei: Chega! O troço simplesmente funcionou, e caso não tivesse funcionado e eu tivesse desistido mesmo que o troço tivesse funcionado, vocês não estariam lendo e provavelmente pensando oportunidades perdidas advindas de possibilidades não agarradas.

Quanta coisa que a gente perde na vida por conta de uma birra, quanta oportunidade a gente perde por conta de falta de vontade, quanta experiência nós adquirimos por conta de insistir em dizer não, lembrando que, "experiência é o nome que damos aos nossos próprios erros" como já disse o excelentíssimo Oscar Wilde..Que, se eu não o tivesse encontrado nas palavras lá em O Retrato de Dorian Gray em um livrinho no fundo de uma livraria do interior, jamais teria me apaixonado tanto pelo modo como o autor transmite mensagens tão atuais mesmo tendo vivido entre o final do século XIX e início do século XX...Quanto erro cometemos pelo simples ato de dizer um "não", uma palavra solta que tem muito significado e impede que muita coisa aconteça..

Perdemos oportunidades a todo momento, oportunidade de ler um bom livro, ver um bom filme, ter um bom papo, conhecer alguém novo, dizer que se ama alguém, demonstrar carinho.. A possibilidade de fazer com que tudo isso ocorra está em você, você é dono das escolhas que você faz.

Já que estamos em clima de final de ano, o que eu quero para 2016? Bom, o que eu quero não importa muito, o que importa é que eu escolho ser feliz e disso, oportunidades surgirão por conta das possibilidades que, certamente a partir de agora eu não perderei.

Feliz 2016 à todxs e que mais SIM sejam ditos e que mais e mais possibilidades sejam agarradas!



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Experiências de desrespeito.



Devo concordar com inúmeros colegas quando estes me dizem: poucos são aqueles que tem a sensibilidade de compreender como é vivenciar uma experiência de desrespeito por não terem vivenciado. E de fato, inúmeras vezes tive a experiência de viver um ato desrespeitoso, ter sido abraçado, ouvido: estamos com você, e na hora "H" lá estava eu sozinho enfrentando o preconceito. A pergunta que se faz é: quem realmente está conosco?!

Primeiramente vamos dar nomes aos bois, quando digo experiências de desrespeito, trato de preconceitos, sejam eles racismo, homofobia, transfobia, xenofobia, aliás, como o atual caso da Charlie Hebdo com a questão da "liberdade de expressão" usada pra difamar aspectos culturais de outros povos, claro que nada justifica a violência empregada, mas acho que o mundo hoje nos permite traçar limites da questão da liberdade de expressão, como diria o MovieBob: "Liberdade de expressão, como conceito legal, apenas garante o seu direito de falar. Não garante o direito de ser ouvido, não garante o direito de concordarem com você, e com certeza não garante que o que você diz não pode ser criticado pela fala de outra pessoa. Mais importante de tudo, não significa que você não vai sofrer as consequências caso sua liberdade de expressão seja usada para assediar ou difamar alguém. E isso é exatamente o que é dizer coisas racistas, homofóbicas e sexistas. ISSO NÃO É CENSURA. ISSO É JUSTIÇA. " - Bob Chipman "Moviebob", e milhares de outras formas de preconceito.

E agora eu faço outra pergunta: Se entre os nossos não há quem nos abrace de fato apesar do discurso progressista (lembrando que ainda no final do século XIX muitos progressistas aceitavam o racismo científico, mas aqui trato daqueles, como diria o popular, os "prafrentex"), quem garante que o Estado está ao nosso lado? O Estado não vive somente de discursos, ele vive de ação, assim como seus colegas que discursam belamente dentro da sala de aula, além do belo discurso progressista, tem-se a necessidade de agir conforme aquele discurso proferido, caso contrário, o que ele disse vira quase que uma metáfora, e assim são as políticas do Estado, se há leis que punem o racismo no Brasil, falta estrutura, não para punir, mas para de fato fazer justiça (tentei não usar esse termo mas se não usá-lo terei que expor muita coisa que ainda preciso aprofundar mais e futuramente publicar), e quando digo que falta estrutura, não digo que faltam estruturas físicas ou burocráticas, mas sim consciência, sensibilidade, visão. Afinal, o racismo não é palpável muitas das vezes, ele faz parte de uma grande estrutura social que se expande do ceio familiar ao próprio Estado, por que não? Não digo que o Estado seja racista, digo que há ainda mecanismos que impedem que o racismo seja de fato percebido dentro do Estado, fazendo com que o mesmo aja, muitas vezes sem a mínima consciência, de forma excludente, separatista...Ou de forma consciente também, sei lá. O Estado é feito por pessoas, instituições são feitas por pessoas e representadas pelas mesmas, se na estrutura do Estado ou de suas instituições há representantes racistas, suas ações serão racistas, caso haja um representante que não é sensível às experiências de desrespeito e às consequências de sua atitude - ou falta de atitude, como Bachrach & Baratz destacam a importância das "não decisões", a instituição irá cometer seus erros e irá praticar ações de desrespeito.

Por essas e outras acredito que cada vez mais gestores de políticas públicas devem estar sensíveis às consequências de suas atitudes, por que não é a assinatura de um papel somente que muda o futuro de milhares de pessoas, sem conhecer a população, sem estar sensível às suas demandas, sem ir a fundo nas questões do preconceito e nas consequências de se agir de modo preconceituoso, continuaremos a ter um Estado que só fala em Igualdade, não pratica a Liberdade e cospe Fraternidade àqueles que tem seus privilégios resguardados.

Helton.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Café e música.

Não há nada mais inspirador que um dia vazio preenchido com café e música, encontrar-se com seu "eu" interior - aquela Avalon dita aqui nesse mesmo blog em outro texto, somos cegados diariamente por palavras, atitudes que levam à impaciência e explosões que nos fazem, nesse momento de vazio, repensar. Sei lá, sempre acreditei que a inspiração viria em um momento de tristeza, de fato a inspiração vem em momentos de tristeza, mas também vem em momentos nos quais você se encontra só, olha para os lados e o máximo que encontra é uma xícara de café com adoçante e uns cookies feitos para matar o tempo, afinal, em dias como esses você não vive, existe, e existe não por existir, mas existe para entrar em contato com o seu eu. Nessa parte do texto, eu já escrevi, apaguei, reescrevi, editei, talvez eu não esteja lá tão inspirado, talvez a existência do dia me faça querer apenas preencher a página vazia que eu encontrei quando entrei no blog, talvez seja a vontade de dizer que não tenho palavras, que não consigo expressar o que sinto no momento, acho que a maior diferença dentre as diferenças, é as diferenças entre os iguais, já que essa mostra que andamos diariamente sob um fio, invisível, e um passo fora, te faz cair e as diferenças entre os iguais aparecerem... Talvez eu não consiga expressar pois palavras machucam, e não por eu querer machucar com palavras, mas por temer dizê-las, já que elas estão abertas às interpretações e ninguém é obrigado a concordar com o que você diz, entender é uma coisa, acreditar é outra. O coração fala, a sinceridade vem à tona, você sabe que não fez, mas não depende de você...Não depende mesmo.. Te faz caminhar sem rumo e se encontrar no vão do MASP às 23h sem saber como voltar à tempo para casa, te faz correr, gripar, adoecer... Te faz desacreditar na justiça divina, nos seus Deuses, na sua fé. Sua sinceridade não é levada em consideração, não é aceita como justificativa, bem vindo ao mundo, Helton.

Frustrar-se é encontrar-se consigo mesmo, e não com o outro. É perceber que umas coisas valem mais que outras e que nem sempre o  que o seu coração diz expressa a vontade do outro que está com você, já que é a sua sinceridade, somente sua...

Perdido nas brumas um dia eu me encontro novamente, corro pra casa e tento de alguma forma entrar em Avalon novamente. Um dia, quem sabe, o Amor fale mais alto, as brumas se dissipem e você sinta o abraço e o carinho que tanto tentou expressar mas não conseguiu por travar...


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

“Educação fiscal, democratização, sustentabilidade e controle de gestão: paradigmas de uma nova relação entre Estado e sociedade pós 1988” - Lauro Victor Nunes

Universidade de São Paulo
Escola de Artes, Ciências e Humanidades


Autor: Lauro Victor Nunes - Nº USP 7555141.
Curso temático: ACH 3666 - “A Cidade Constitucional e a Capital da República”.
Responsável: Prof. Dr. Marcelo Arno Nerling.
Carreira: Gestão de Políticas Públicas/ 8º semestre.

“Educação fiscal, democratização, sustentabilidade e controle de gestão: paradigmas de uma nova relação entre Estado e sociedade pós 1988”

Objetivo
            Este artigo se objetiva a expor e aprofundar algumas temáticas abordadas no curso “A Cidade Constitucional e a Capital da República”, ofertado pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, tendo por princípio aliar teoria e prática, prezando sempre pelo diálogo interdisciplinar entre as ciências sociais aplicadas, especialmente o Direito e o Orçamento Público, e outros enfoques voltados a Participação e Controle Social e Transparência da gestão pública brasileira atual, análises estas mais relacionadas às ciências políticas e ciências sociais.

Metodologia

            A produção do conhecimento aqui apresentado foi embasada nas palestras ocorridas entre os dias 06 e 12 de setembro de 2014 na capital federal, Brasília, em órgãos federais da administração pública direta e indireta, dos três poderes da república: executivo, legislativo e judiciário, bem como expertises adquiridas pelo interlocutor com as vivências e aprendizados do curso de bacharelado em Gestão de Políticas Públicas e de sua própria trajetória enquanto estudante univrsitário e, principalmente, cidadão. Foram elencados alguns temas dentre todos abordados pela viagem, priorizando-se uma análise concisa e transversal, de linguagem acessível, apesar do formato de artigo acadêmico. 

Justificativa
         A importância deste relatório está na sua capacidade de prestação de contas à sociedade. Considerando que a Universidade de São Paulo é uma instituição de ensino superior que tem em sua fonte orçamentária recursos advindos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do estado de São Paulo, imposto este que tributa, sobretudo, a população mais hiposuficiente do ponto de vista da renda, ou seja, aqueles que ganham até quatro salários mínimos mensais, cabe ressaltar a importância de que os aprendizados obtidos com a viagem didática, integralmente financiada pela Universidade, ou melhor, pela própria sociedade, sejam publicizados e estejam estes ao alcance de todos os cidadãos.   
Introdução
            O contexto da pós-redemocratização brasileira, no final da década de 80, inaugurou a descontinuidade do modelo de Estado centralizador, intervencionista, positivista, autoritário e provedor das principais políticas públicas e políticas sociais, fruto do processo de Bretton Woods e do Pacto Keynesianista. A década de 80 revelava um profundo desgaste do modelo de Estado intervencionista, o que podia ser observado no Brasil, em que a mesma década recebe, coloquialmente, o nome de “década perdida” (SALLUM JR, KUGELMAS, 1991: p.145), devido ao alto grau de endividamento interno e externo associado às crescentes renúncias fiscais que impactavam negativamente na acumulação de receitas por parte do Estado. Considerando a decadência, em maior ou menor grau, deste modelo de Estado emergente de um cenário pós-crise de 1929, surge um novo paradigma que visou a reformulação do Estado via diminuição de sua atuação, em especial, da sua capacidade de intervenção e regulação do mercado e da soberania nacional com o Consenso de Washington, em 1989, que representa o marco mundial do neoliberalismo e suas implicâncias (MAJONE, 1999).
            A ascensão da economia de mercado e do protagonismo dos atores privados internacionais ocasionou a construção de um modelo de Estado voltado à regulação da prestação de serviços que, historicamente, estiveram vinculados aos governos como os principais provedores. Em meio ao processo de reforma da estrutura do Estado, destaca-se a privatização e concessão dos serviços públicos, inclusive daqueles considerados bens meritórios, a exemplo da educação e saúde, tendo os governos latinoamericanos, no geral, ocupado uma função mínima, típica à regulação e supervisão, enquanto o mercado se organizou para prover tais bens e serviços. O neoliberalismo foi o responsável pela desregulação da economia, onde passou a priorizar um caráter especulativo, de sobrevalorização do patrimônio, onde “a atividade financeira passou a ser um dos principais motores do capitalismo” (PAREDES, ROADE, 2006: p.27 – tradução minha). Neste cenário, são visíveis os crescentes grupos que reconhecem o Estado como falho e excludente e, partindo desta premissa, se possível, visam substituir sua atuação em alguns setores específicos.
            Neste contexto, estavam em voga dois modelos de gestão pública: o gerencial e o societal. Em relação a este primeiro, largamente difundido nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, nota-se que a descrebilidade dos Estados Nacionais latinoamericanos, dado o contexto de alto endividamento interno e externo dos governos, a acelerada inflação, a desindexação econômica, a incapacidade dos governos de prover a manutenção das políticas de Bem Estar Social, entre outros fatores, apontaram para a necessidade de redução da capacidade administrativa do Estado, sendo atribuído ao setor privado a prestação de certos serviços públicos antes essencialmente providos pelo setor público. Neste contexto globalizante e transnacional, é relevante descrever a ação do neoliberalismo ideológico como corrente teórica que, desde a década de 80, difundia um novo modelo de prestação de serviços públicos, destacando, em tese, a viabilidade de se privatizar, conceder e terceirizar ao mercado tais funções até então desempenhadas pelo Estado, cabendo a este último a função de regular a qualidade destes bens e serviços. Sen (2000) descreve que, para além das necessidades econômicas e de subsistência, também é função do Estado contemporâneo prover as condições necessárias para os indivíduos exercerem seus direitos civis e liberdades políticas. O ajuste neoliberal não eximiu os governos de sua responsabilidade quanto à manutenção da plena cidadania, da democracia representativa e da superação das desigualdades econômicas e sociais, afinal, no caso brasileiro, a Constituição Federal de 1988 é promulgada justamente no período de introdução destes novos paradigmas referentes à capacidade do Estado de constituir um novo modelo jurídico-organizativo e de prestação das políticas públicas.
            Pode-se relatar que esta corrente teórico-política, alicerçada na Nova Gestão Pública (New Public Management), focalizava a meritocracia, a eficiência, a flexibilidade de gestão e a análise dos resultados quantitativos como instrumentos-base da gestão pública gerencial, implementada no país a partir da década de 1990. Paes de Paula (2005) relata que o gerencialismo sustentava certas distorções ao abordar gestão pública tão somente sob a ótica da tecnoburocracia, promovendo, em parte, a manutenção das estruturas do Estado burocrático brasileiro do século XX, como a rigidez hierárquica associada à persistência de um modelo de cadeia de comando altamente verticalizado, ou top-down, contemplado pelas reformas do Ministério de Administração e Reforma do Estado (MARE), o que contribuiu para a formação de burocratas altamente insulados, mantendo-se a clara diferenciação entre o alto escalão governamental e os ditos burocratas de nível de rua que, por vezes, eram pertecentes à organizações privadas que prestavam serviços ao Estado, ou seja, compunham o serviço público não-estatal. Outro aspecto negativo se refere ao excessivo foco na eficiência de gestão e no monitoramento objetivo das políticas públicas, voltados à introdução de indicadores que mensuravam o desempenho das ações do governo, por vezes rankeando-as de acordo com os resultados, o que revelava um modelo de gestão emergido nos ideais positivistas, dada a evidência da avaliação quantitativa, do rankeamento e da racionalização da gestão. Por fim, a ausência de mecanismos de participação social na gestão pública gerencial eram ocasionadas pelo rígido formato institucional, seja das organizações sociais, seja do aparelho do Estado, que impossibilitavam as oportunidades de inserção popular na tomada de decisão e na formulação das políticas. A autora descreve que, ao “copiar” o setor privado, o gerencialismo não considerou que a participação na gestão pública representava uma demanda da sociedade.
            Tomando em conta este contexto, fica claro que a estrutura governamental, de tão rígida, não era capaz de “abranger o complexo tecido mobilizatório existente na sociedade brasileira” (PAES DE PAULA, 2005: p.44). Em relação às experiências brasileiras dos conselhos populares na área de saúde, Coelho (2005) descreve que as décadas de 80 e 90 estiveram emergidas em um cenário em que “la tradición autoritaria del Estado brasileño (…) dificulta reconocer y respetar al otro como ciudadano, la fragilidad de la vida asociativa, y la propia resistencia de los actores sociales y estatales para aceptar participar en esos foros han comprometido la efectiva participación social en el proceso de formulación y gestión de la política de salud” (p.1). Atentando para tal necessidade, ainda na década de 90, surgem algumas experiências locais de empoderamento social e de incentivos à prática cidadã, sendo eles o Orçamento Participativo e os Conselhos Gestores, amplamente descritos pela autora acima citada. Tais iniciativas demonstraram que a participação social poderia incrementar e impactar positivamente no ciclo das políticas públicas, desde a formatação da agenda até o monitoramento, considerando a expertise do cidadão-usuário. Sendo assim, tais iniciativas contribuiram para a legitimação de um novo modelo de gestão, introduzida no Brasil a partir da primeira década do século XXI, ainda que o primeiro governo Lula, em certos aspectos, tenha representado uma continuidade da estrutura organizativa de Estado da administração gerencial anterior, vide as políticas de austeridade fiscal, econômica e monetária praticadas neste período, mas que não impediram o avanço destas novas inciativas de fomento à participação e protagonismo popular na gestão pública, marcos da Gestão Social.
            E é exatamente em relação a este modelo de Estado pós-gerencial, ou societal, que reconhece a importância de introduzir e efetivar mecanismos de participação popular e controle social da gestão pública e tem por objetivo a superação do modelo weberiano clássico o objeto que embasa as análises a seguir.

Inovações da gestão societal

I) Educação fiscal:

            A educação fiscal não é um conceito novo. Suas experiências se iniciam ainda no governo de exceção da ditadura civil-militar brasileira, em 1969, com as primeiras ações educativas findadas pela “Operação Bandeirante”. Entretanto, o objetivo desta análise é priorizar as diretrizes que a educação fiscal passa a considerar na redemocratização, principalmente sob a forma do PNEF, a partir do ano de 1996. Interpretada como uma perspectiva didático-pedagógica, o Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF) tem por finalidade maior construir uma nova relação entre Estado e sociedade civil no que se refere à educação fiscal e mecanismos de controle da gestão pública.
            A portaria interministerial nº413/2002 definiu as competências dos órgãos responsáveis pela implementação do Programa Nacional de Educação Fiscal – PNEF:

            O MINISTRO DE ESTADO DA FAZENDA e o MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições, tendo em vista o Convênio de Cooperação Técnica firmado entre o Ministério da Fazenda, o Distrito Federal e os Estados, resolvem:
“Art. 1º Implementar o Programa Nacional de Educação Fiscal – PNEF com os objetivos de promover e institucionalizar a Educação Fiscal para o pleno exercício da cidadania, sensibilizar o cidadão para a função socioeconômica do tributo, levar conhecimento ao cidadão sobre administração pública e criar condições para uma relação harmoniosa entre o Estado e o cidadão”(BRASIL, 2014e).

            O PNEF, em sua essência, visou cumprir os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil descitos no artigo 3º, inciso I, da Constituição Cidadã de 1988, sendo eles “construir uma sociedade livre, justa e solidária” (BRASIL, 2014a). Antes de se iniciar as descrições a respeito do referido Programa, cabe aqui expor quais são e como ocorrem estas interações entre os governos e os cidadãos.
            Moore (2003), em sua obra “Criando Valor Público”, descreve que o Estado contemporâneo exerce sua autoridade formal para arrecadar recursos que serão capazes de financiar suas atividades em busca do bem comum e do interesse social. Estes recursos são os tributos, ou seja, impostos, taxas e contribuições que a sociedade paga aos governos em troca de uma prestação de bens e serviços públicos apropriados às necessidades locais e usufruídos por toda a coletividade. Estes bens e serviços compõem uma gama de empreendimentos públicos que não são provenientes de escolhas individuais e voluntárias dos cidadãos. Em uma democracia representativa, os indivíduos elegem parlamentares que centralizam a tomada de decisão sobre o que será produzido pelo Estado, enquanto os esforços maiores em relação à materialização desta tomada de decisão cabe aos burocratas.Para que existam políticas públicas, deve-se possuir, primeiramente, um orçamento, capaz de garantir o financiamento dos recursos materiais e imateriais consumidos pela atividade estatal. Mostra-se importante ressaltar que o orçamento também é composto pela soma dos tributos pagos aos governos pelos cidadãos, ou seja, é a contribuição individual e não voluntária dos cidadãos que garante a existência e as atividades desenvolvidas pelos governos.   
            Em uma sociedade liberal, em que as preferências individuais preconizadas pelo mercado sobressaem às coletivas, a atividade governamental é essencial para garantir uma distribuição justa e equânime de encargos e benefícios, tendo o Estado ocupado a função de alocar e redistribuir recursos em prol do interesse de todos os cidadãos.
            Considerando esta relação de interdependência entre Estado e sociedade civil, o Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF) visa “sensibilizar o cidadão para a função socioeconômica do tributo, levar conhecimentos aos cidadãos sobre administração pública, incentivar o acompanhamento pela sociedade da aplicação dos recursos públicos”(BRASIL, 2014d), além de “criar condições para uma relação harmoniosa entre o Estado e o cidadão” (BRASIL, 2014d). Sendo assim, no geral, o PNEF possui diretrizes voltadas à conscientização e empoderamento do cidadão para a função de controle do orçamento executado pelo Estado. Sendo a própria sociedade civil a financiadora principal das atividades governamentais, parece justo que este último garanta mecanismos de participação social na gestão, responsáveis pelos checks and balances (pesos e contrapesos) que proporcionam um uso adequado e responsável dos recursos públicos. 

II) Mecanismos de participação social na gestão pública:

            A legitimação do imperativo público, ou seja, da capacidade do Estado de concretizar ações que promovam justiça e equidade não se limitam a questão do controle do orçamento. A participação popular na gestão deve ser ampla, abarcando os três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário) e as três esferas governativas (Federal, Estadual e Municipal). Neste sentido, cabe aqui descrever uma experiência em que o Estado brasileiro têm cumprido a máxima da proximidade e equilibrada relação com a sociedade civil organizada, sendo elas a Comissão de Legislação Participativa (CLP).  
            Ainda de acordo com a obra de Mark Moore (2003), sabe-se que o Legislativo é um importante ator governamental por centralizar a tomada de decisão sobre o que será ou não priorizado pelo Estado em determinado momento, dada a sua restrição orçamentária para o período. A perspectiva pluralista de análise da formatação da agenda das políticas públicas, oriunda da década de 60, aborda certas experiências em que a ação de grupos de pressão de certos segmentos da sociedade, representado pelos lobbies, é suficientemente capaz de direcionar a atenção e os recursos do Estado para determinados interesses que, por vezes, não são os da sociedade civil em geral naquele momento. Levando em conta a existência destes grupos coesos, e de sua capacidade de alavancar recursos públicos para atingir objetivos pessoais e finalidades próprias, mostra-se essencial que o Estado reconheça a necessidade e promova mecanismos de participação popular dentro do próprio parlamento, a fim de os interesses coletivos sejam contemplados pelos esforços públicos.
            Considerando este cenário, a Câmara dos Deputados percebeu a necessidade de se criar uma instância de efetiva participação popular dentro do Legislativo. Neste sentido, a Comissão de Legislação Participativa (CLP) representa uma intervenção direta da sociedade no sistema de leis e normas debatidas pelo Estado, sendo que é facultativo aos atores sociais apresentar “sugestões para elaboração de novas normas ou para o aperfeiçoamento da legislação já existente” (BRASIL, 2014c). A CLP recebe e examina as sugestões de iniciativa legislativa, pareceres técnicos, exposições e propostas advindas do Terceiro Setor, ou seja, Organizações Sociais (OS) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), além das iniciativas de Associações de Classe, Sindicatos, Entidades da sociedade civil (exceto partidos políticos), além de Órgãos da administração direta e indireta do setor público, cumprindo a máxima da democracia deliberativa ao proporcionar aos cidadãos um espaço legítimo na arena legislativa para defesa e discussão de seus pontos de vista e interesses, sendo necessário que a própria sociedade se aproprie deste espaço e exerça seus direitos políticos.
            Nesta perspectiva da “democracia como criadora de um conjunto de oportunidades” (SEN, 2000:p.182), caberia aos cidadãos aproveitar as oportunidades para expor insatisfações e propor mudanças em sua realidade, levando em conta que a redemocratização, por si só, não foi suficientemente capaz de promover a superação das desigualdades sociais então perpetuadas, e de certa forma herdadas, do período histórico do Estado burocrático, de viés centralista e autoritário, ainda que este modelo político retomado na década de 80 seja o responsável por incentivar a criação de novas formas institucionais de participação popular na gestão pública.
            A iniciativa legislativa por parte da sociedade está prevista na Constituição Federal, Artigo 61, parágrafo 2, em que:
§ 2º “A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles” (BRASIL, 2014a).

III) Sustentabilidade da gestão pública:
            A sustentabilidade de gestão pode ser definida como a capacidade técnica-institucional do Estado de utilizar a restrição orçamentária que ele possui e maximizar a prestação de bens e serviços públicos à sociedade, garantindo sua existência, permanência e legitimidade no tempo-espaço. Revela-se necessário expor duas alternativas de sustentabilidade: a intervenção da sociedade civil execendo o controle da gestão e a diversificação institucional do Estado.
            Quando a participação social na atividade dos governos e sustentabilidade de gestão “tem tudo a ver”? A participação e o controle social são formas de garantir o princípio da economicidade da gestão pública quando os cidadãos induzem o Estado a atuar de forma responsável em relação à finalidade e ao consumo de recursos públicos, ou o “fazer mais com menos”. Esta demanda por aumento de eficiência deve existir, considerando que o Estado utiliza sua autoridade formal e coercitiva para cobrar impostos visando acumular  receita suficiente para intervir positivamente na sociedade (MOORE, 2003). Considerando que os financiadores do Estado são os próprios cidadãos, revela-se crucial que os atores societais estejam conscientes dos instrumentos do orçamento público e dominem as técnicas de educação fiscal, fator que este que justifica a importante existência do PNEF.
            Ao possuir canais de comunicação direta com representantes do governo, os cidadãos têm condição de exercer a verdadeira democracia participativa. Mobilizam esforços e recursos para barrar ações de improbilidade do Estado ou incentivar iniciativas de interesse social, daí a importância de um orçamento publicizado, transparente e que correlacione ações do Estado e as necessidades do curto, médio e longo prazo da população. Neste sentido, o Plano Pluri Anual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a Lei Orçamentária Anual (LOA) e a Lei de Responsabilidade Fiscal representam essenciais marcos regulatórios dos quais os indivíduos devem conhecer. Ao tomarem conhecimento da leis orçamentárias, bem como de seus instrumentos de gestão e controle dos fundos públicos, os cidadãos possuem condições suficientes para intervir na administração pública, induzindo o Estado a ser econômico, eficiente e, consequentemente,  sustentável no tempo-espaço. Ou seja, o cumprimento do princípio da accontability (participação, controle social e transparência das informações públicas) impacta diretamente na capacidade do Estado ser responsável e acertivo no gasto da despesa pública. Pode-se descrever uma relação causal em que quanto maior os mecanismos de participação social, maior poderá ser o controle  da gestão e, assim, sua eficiência na provisão de políticas públicas aos interessados.  
            A segunda alternativa de sustentabilidade da gestão está relacionada à redução da “máquina pública” ao incentivar a participação do Terceiro Setor na provisão de bens e serviços públicos. A execução de serviços públicos por meio das Organizações Sociais (OS) e/ou das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) podem ser citados como meios indicativos para a consolidação de outras instâncias diretas de participação social dentro da gestão pública, o que, de acordo com Spink (2002), revela uma “nova arquitetura social” (p.145), considerando que o aumento destas parcerias entre as agências públicas e as organizações da sociedade na provisão de bens e serviços promoveriam a superação do paradigma de gestão pública centrada em certas organizações antes exclusivamente responsáveis pela ação pública dos governos. Considerando este contexto, mostra-se relevante considerar que a democracia e as mudanças político-estruturais do Estado permitiram o surgimento de “uma nova visão sobre o desenvolvimento, que reforça o papel das organizações e redes locais constituídas independentemente do Estado” (MARTELETO, 2004: p.48), tendo a corrente ideológica-acadêmica da Nova Gestão Pública cumprido a função de ser um dos referenciais teóricos centrais para se entender a redução do Estado, a desburocratização, a informatização e a emergência de alianças com o setor privado e outros tipos de organizações societais para garantir efetividade dos empreendimentos públicos. Ainda de acordo com Spink (2002), estas alianças e parcerias das instituições públicas com outros tipos de organizações ajudam no cumprimento do ciclo de políticas públicas, pois visam suprir a necessidade de conseguir recursos para garantir sua efetiva implementação, em um contexto em que mobilizam “recursos que de outra forma seria difícil de se obter” (p.146), expressando assim a oportunidade de alavancar expertises e recursos externos para aumentar a capacidade de realização do que o Estado poderia fazer caso não contasse com tais auxílios.

IV) Mecanismos de controle institucional da gestão pública:

            Além dos Conselhos populares, do Ministério Público Federal e Estadual, dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos Municípios, das Câmaras dos Vereadoes e das Assembleias Legislativas, cabe aqui aprofundar uma instância organizacional de controle da gestão mais recente: a Controladoria Geral da União (CGU). A CGU é uma instituição pertencente ao poder executivo federal e cumpre a função do controle interno ao fiscalizar estados e municípios que recebem recursos e/ou repasses federais. A sua criação advém da necessidade de responsabilização dos representantes do executivo, atividade esta que carecia de mecanismos de operacionalização.
            Como objetivos, a CGU preconiza detectar riscos de fraude e apoiar o processo de tomada da decisão dos gestores públicos ao realizar uma pré-auditoria da despesa pública que, em caso de irregularidade,  é repassada aos órgãos competetentes, sendo eles o Tribunal de Contas da União, Tribunal de Contas do Estado e Tribunal de Contas do Município. Sendo assim, representa uma unidade operacional composta por órgãos setoriais e da administração pública que avalia a gestão governamental, especialmente a execução dos gastos públicos. Além disso, promove a avaliação da execução dos programas de governo e o monitoramento de seus resultados por meio de indicadores de eficiência e eficácia que geram Relatórios de Avaliação (RAV) do desempenho da gestão. Também avalia a atuação dos administradores públicos, define diretrizes de orientação e capacitação destes gestores, promove a ação investigativa, a articulação interinstitucional e a transparência das informações de caráter público, alicerçada na Lei nº 12527/2011, estando sujeita à orientação normativa e supervisão técnica da Secretaria do Controle Interno (SCI). 
            A execução das funções de controle pressupõe a existência de uma burocracia governamental dotada de conhecimento especializado nos processos de gestão, autonomia e poder decisório, capacidade de formular metas políticas próprias, bem como de impor restrições às certas decisões políticas que julgar inapropriadas para a sociedade. A tecnocracia representa a superação do modelo de Estado weberiano clássico, em que os políticos centralizam a tomada de decisão e, aos burocratas, caberia uma execução imparcial e neutra, desconsiderando a capacidade destes de mobilizar ideias-força que representem os seus interesses pessoais e coletivos.    
            Como benefícios de sua intervenção, cita-se os prejuízos evitados, também conhecido como custo de oportunidade do uso dos recursos públicos, mudanças normativas, controle das práticas de gestão, entre outras iniciativas que promovam o aperfeiçoamento dos processos governamentais e ocasionem melhores serviços públicos à população, ou seja, maior economicidade e responsabilidade do uso dos recursos públicos e, consequentemente, maior efetividade das políticas públicas implementadas pelos governos. O Brasil é signatário de convenções internacionais contra a corrupção no setor público, o que sugere a cooperação transnacional para ações de investigação e combate à atos ilícitos. Outra iniciativa relevante é o Observatório da Despesa Pública (ODP), uma instância responsável pelo processo de pré-auditoria da execução dos gastos públicos, em que somente os maiores riscos de fraude são apurados. Representa um aprimoramento da gestão, no sentido em que preza pela defesa do patrimônio público e da transparência de gestão, além da produção de informações estratégicas para a auditoria e monitoramento dos gastos.
            Neste sentido, cabe à Controladoria Geral da União assegurar que os objetivos da política pública sejam cumpridos, considerando as finalidades políticas e sociais às quais foram propostas inicialmente: a melhoria do desempenho do Estado na provisão de bens e serviços e o uso responsável dos recursos públicos.

Reflexão crítica: “Existe democracia sem manifestação da população?”

                             
  Senado Federal. Foto tirada em 11/09/2014. Autoria própria. 

            Observe a imagem acima. É o Senado Federal, instância nacional do Legislativo bicameral brasileiro, no ano de 2014. Nota-se que a última frase descreve a seguinte situação: “Proibida a manifestação”. Mas que sentido a palavra “manifestação” possui? Neste caso, carrega uma conotação negativa, possivelmente relacionado à desordem pública. Mas seria o exercício de cidadania, incremento à atividade política formal eleita, um símbolo da desordem pública?
            Caro leitor, sabe-se que as instituições democráticas devem ter legitimidade para atuar na esfera política. Mas até onde a estabilidade e rigidez destas que, por vezes limitam a participação social, tem real legitimidade? Seria viável criar um canal de comunicação direto entre a sociedade civil e o Senado, a título do que já existe na Câmara dos Deputados com a Comissão de Legislação Participativa? A quem queremos calar “´proibindo a manifestação” da sociedade brasileira? É viável admitir que um órgão do Legislativo aja com tamanha limitação à participação popular? O objetivo deste tópico não é enviezar respostas prontas porque este interlocutor não acredita em explicações únicas para eventos complexos do cotidiano, especialmente na arena política. Vale a reflexão a respeito de que tipo de democracia queremos: delegativa ou deliberativa.  

Considerações Finais

            Viver o “Cidade Constitucional e a Capital da República” representou o ápice do exercício de minha cidadania. O ponto especial do projeto não está em tão somente conhecer as instituições políticas, mas me sentir parte delas e do trabalho que ali é produzido. Notar que, sem os cidadãos, o Estado não possui capacidade fiscal suficiente para atuar pelo bem público e este é o grande argumento que justifica o fato de que governos e sociedade devem ser uma “coisa só” e não atores políticos distanciados por barreiras físicas, institucionais e legais.

                           
Praça dos Três Poderes, Brasília. Alunos da USP. Foto tirada em 11/09/2014. Autoria Própria.

            Após as análises aqui produzidas, mostra-se essencial o fortalecimento do paradigma de gestão societal, em que a participação social seja prioritária no planejamento das principais ações decisórias do campo social e do mercado, não pretendendo o Estado retomar o modelo anterior de intervenção, mas sim que adotasse o caráter de principal gestor das políticas sociais, orientando as políticas públicas de forma estratégica e articulada para que, no longo prazo, de forma incremental e considerando a pluralidade de interesses da sociedade civil (MASSADIER, 2006; KLIJN, 1998), demarcasse uma gestão pública pautada pela accountability, caracterizada pela responsbilização política, transparência e controle fiscal, no legislativo e na burocracia estatal, a ser executado por órgãos próprios e pela sociedade civil.   

Referências Bibliográficas  
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SPINK, Peter. Parcerias e alianças com organizações não-estatais. In: SPINK, P.; BAVA, S.; e PAULICS, V. Novos contornos da gestão local: conceitos em construção. São Paulo: Instituto Pólis, Programa Gestão Pública e Cidadania/ FGV-EAESP, 2002.


domingo, 12 de outubro de 2014

RELATÓRIO DA “CIDADE CONSTITUCIONAL: A CAPITAL DA REPÚBLICA VIII”.

Autor: Helton Hissao Noguti.
Nº USP: 7554877.



“O conhecimento é como um jardim: se não for cultivado, não pode ser colhido!” Provérbio Africano.


Introdução.

Logo no segundo semestre do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, descobri que havia uma disciplina chamada “Cidade constitucional: capital da república” a qual rompe as paredes da sala de aula , supera os muros da universidade e vai em busca do direito na rua e nas instituições republicanas. E cuja missão é facilitar o desenvolvimento da personalidade, o preparo para a cidadania e para o mundo do trabalho, por meio de encontros expositivos, diálogos, mapa conceitual, estudo dirigido, solução de problemas, formação de diagnósticos, dramatização, seminário, estudo de caso, painel, estudo de meio (NERLING & ANDRADE, 2014), obviamente me matriculei, mas algo me dizia que ainda não era a hora de vivenciar tudo isso, o tempo passou, muitas coisas ocorreram e com alguns anos a mais nas costas, já no oitavo semestre, resolvi me matricular novamente, seria então a última oportunidade que eu teria para realizar a disciplina, mas ainda sim não conseguia compreender o significado de tudo isso, mas agora sabia que era a hora certa, não por ser a última chance, mas por sentir que seria uma viagem inesquecível. Para a minha alegria a matrícula havia sido efetivada e então começavam os preparativos para a viagem, teria enfim começado a vivenciar o espírito da “Cidade constitucional: Capital da República”, em duas semanas o ônibus sairia do campus leste da USP rumo à Brasília-DF.

A viagem.

Na sexta-feira, dia 5 de setembro de 2014, cheguei no campus leste da USP por volta das 16h, a fim de não pegar o “horário de pico”, da linha-12 da CPTM, com mala e tudo mais, por volta das 20h já estávamos dentro do ônibus, a ansiedade era tamanha e o ônibus demorava a se mexer, por volta das 21h começamos a jornada de 18 horas de viagem, por volta das 23h paramos para jantar e após isso foram mais umas duas paradas até que o sol começasse a se mostrar forte, imponente. Já em Goiás, comecei a reparar nos grandes latifúndios que se estendiam um ao lado do outro, com quilómetros de distância entre cercas que cercam um mesmo terreno, cheguei a presenciar até um jatinho particular descer em uma dessas fazendas com várias pessoas esperando o provável dono daquilo tudo em contraste com uma população empobrecida, em cidades não tão estruturadas e me assustei, quando, do nada, surge aquela cidade planejada, com prédios modernos onde, de fato, vive a nossa capital, Brasília. Cidade criada para sediar o tripé da nossa democracia representativa, a capital da nossa República, e chega até ser engraçado em alguns pontos pois é uma cidade onde nossos governantes, pelo menos, deveriam governar para a população, mas que não pensa no coletivo. Logo ao chegar na capital da República, reparei no número de carros e na falta de faixas de pedestre que existem, sem contar a frota de ônibus que parecem sucatas sobre rodas, carregando as pessoas humildes que elegeram os ocupantes das cadeiras do Congresso Nacional, prédio imponente, que se mostra receptivo com seu jardim estendido e com sua vista tombada, permitindo-se ser visto de longe, e o presidente da República, que governa do Palácio do Planalto, cercado, minuciosamente observado e com dois guardas dos Dragões da Independência que guardam a entrada principal do palácio, único prédio dos três poderes que não pudemos visitar.

Começamos então o dia 6 de setembro com uma visita ao prédio do Supremo Tribunal Federal, iniciada no Hall dos Bustos, onde encontram-se os bustos de grandes personalidades, como D. Pedro I (1789-1834), promulgador da independência do nosso país, Joaquim Nabuco (1849-1910), figura marcante do movimento abolicionista brasileiro, e, claro, Rui Barbosa (1849-1923), patrono dos advogados brasileiros, senador da República e brilhante jurisconsulto, foi o principal autor do Projeto da Constituição republicana de 1891, fomos também apresentados à Porta Simbólica de acesso ao Plenário, adornada com a escultura “A Justiça” – de Alfreto Ceschiatti (1975), em metal dourado, que, antes da reforma do Edifício Sede, em 1978, era usada como porta principal de acesso ao plenário da Corte, seguimos então para o quatro “Os Bandeirantes de Ontem e Hoje”, do artista plástico Massaroni Uragami, que traça um paralelo entre as bandeiras de Fernão Dias Paes Leme, os desbravadores da Transamazônica e a fundação de Brasília, seguindo para o Plenário, que é resultado da reforma executada na década de 1970, cujo painel que compõe o fundo da sala é de Athos Bulcão e foi feito em mármorebege-bahia. Ao centro está fixado um crucifixo dourado de autoria de Ceschiatti, que data de 1977, nesse momento me veio um pensamento, sendo o Brasil um Estado laico, desde 1891, com a promulgação da Constituição Republicana – aquela cujo principal autor do projeto fora Rui Barbosa, que faz com que o Estado deixe de ser um Estado Confecional, sendo portanto há mais de um século e com a promulgação da Constituição Federal de 1988, tendo positivado nos artigos 5º, VI e, 19, I, que os órgãos do Estado ficam proibidos de professar, influenciar, ser influenciado, favorecer, prejudicar, financiar, qualquer vertente religiosa, pois não existe religião oficial em nosso país, sendo este, entre outros, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, por que na corte suprema do nosso Poder Judiciário, a guardiã da Constituição Federal, há um crucifixo?

Após esse momento de brainstorming seguimos para o 2º andar do Edifício Sede, onde estão localizados a Sala Contemporânea, que abriga mobiliário do século XX que pertencia à Corte ainda no Rio de Janeiro, o Salão Nobre, local onde são recepcionados os chefes de Estado de países estrangeiros em visita ao Supremo Tribunal Federal e o Hall dos presidentes oficiais, o Salão Branco, que abriga a “Galeria de Retratos dos Ex-Presidentes do STF” e a Galeria de fotos dos ministros, onde, conforme o palestrante, todos os ministros passam todos os dias, e onde se encontra uma réplica da Constituição Federal de 1988 em exposição a fim de que os ministros lembrem-se dos votos que fizeram na graduação em Direito para defenderem a Constituição.

No mesmo dia não houve mais visitas, tentamos chegar ao Itamaraty à tempo mas não conseguimos, retornamos então à Praça dos Três Poderes para pegarmos o ônibus em direção à ESAF – Escola de Administração Fazendária, onde ficamos hospedados. Devido ao calor e a falta de hidratação unido à roupa escura e quente que usava, tive uma leve crise de enxaqueca, mas que logo passou após um banho e um pouco de descanso, tivemos então, na mesma noite do dia 6 a apresentação da metodologia, que mescla a andragogia, ensino de adultos, e a escutatória, que se resume a escutar mas também falar, questionar, interagir. Acabando assim o primeiro dia em Brasília.

Na manhã seguinte, do dia 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, levantamos cedo, saímos às 5h da matina para assistir à alvorada no Palácio da Alvorada, residência da Presidente da República e depois seguimos para o desfile cívico-militar de 7 de setembro. Eu e meus amigos ficamos em uma arquibancada popular, assisti às pessoas aplaudirem todo aparato militar do Estado e indaguei sobre a mensagem transmitida pelo desfile militar, a questão do controle social ficou implícito para mim, é o Estado mostrando ao mundo e ao cidadão brasileiro que, aquele maquinário todo além de servir para garantir a nossa independência, também serve para controlar, conter, “pôr ordem na casa”, essa questão me marcou por algum tempo, argumentei com colegas e me senti menos mal ao saber que não era o único a pensar dessa forma, em retorno à ESAF às 12h30, fomos recepcionados com um churrasco e um dia de laser, onde, com meus colegas, fui conhecer mais o campus da escola, os arredores, jogar vôlei, enfim, um dia de descanso após três dias corridos.

Já na manhã de segunda-feira, dia 8 de setembro, tivemos a mesa de abertura com a presença de representantes da ESAF; USP; de la Oficina EUROsociAL II – FIIAPP; El Salvador e Honduras, Raíde Almeida, diretora substituta da ESAF destaca que, para que tenhamos cidadania, soberania plena, há a necessidade de se falar de educação, necessidade de reconhecer as diferenças e as culturas, frisa que o cidadão livre da colonização neoliberal é capar de pensar criticamente a fim de mudar a realidade social., o Profº. Drº Douglas Andrade destaca a oportunidade que a disciplina traz de apresentar a realidade de inúmeras políticas e o Profº Drº Marcelo A. Nerling destaca que as matrizes que sustentam a disciplina “Cidade Constitucional: A Capital da República VIII” são: sustentabilidade e educação fiscal.

Durante à tarde, tivemos uma palestra na ENAP – Escola Nacional de Administração Pública que retratou um pouco do seu histórico e da cooperação internacional, obtivemos muitas informações de como a escola de governo funciona, cuja missão é auxiliar os gestores dos ministérios capacitando-os para a função – específica ou não, sendo uma fundação pública, criada na década de 1980 – quando se chamava FUNSEP – recebendo o nome de ENAP na década de 1990 e que atua em diversos campos, tendo a categoria de fundação e administração direta e indireta, cursos como de consultoria são reservados aos funcionários públicos federais, o que aproxima a escola da gestão pública.

Saindo da ENAP, retornamos à ESAF pois às 19h estava marcado o IV Seminário USP-ESAF – O Programa Nacional de Educação Fiscal – PNEF: Educação Fiscal e preparo da cidadania, onde tivemos uma palestra incrível com Ronaldo Iunes, que trouxe à luz questões sobre escolhas entre investimento e política social - pois escolher ambas é aumentar tributo e sobre educação fiscal visa ir aos interiores do Brasil e leva em consideração as diferenças locais. Drº Antônio também fez sua fala ao elucidar questões da tributação no Brasil, cuja carga é de 38,5%, e que tributa pouco em propriedades, movimentações financeiras, ações e renda, mas tributa muito em consumo, o que faz com que sempre os mais pobres paguem mais imposto.

Na manhã de terça-feira, 9 de setembro, tivemos o V Seminário USP – Controladoria Geral da União, órgão do poder executivo que controla a União, Estados e Municípios (quando estes recebem recursos federais). Nessa manhã tivemos uma palestra sobre corrupção, destacando que o discurso cai para o lado moralista, e que o Estado tem que ter capacidade de informar a população através da Lei 13.019/14, sendo o diálogo direto com a sociedade que muda a relação Estado-Sociedade. Vemos então a estrutura da CGU, que controla 2,48 trilhões do orçamento, 53 mil unidades administrativas, 39 ministérios , 600 mil servidores e que tem como equipe 2500 servidores, destaca-se que a informação é importante para o feedback dos gastos , fazem portanto um controle primário, trabalho realizado através de bancos de dados estruturados do governo, mas não fazem auditoria e sim uma pré-auditoria, subsidiando-as caso necessário, o palestrante destaca que a CGU não tem competência para realizar auditorias, mas pode solicitá-la.

Saímos da CGU e fomos direto para o IV Seminário USP-UNB – Universidade de Brasília – O direito achado na rua e nas instituições da cidade constitucional seguido do VII Seminário USP- MS – Políticas Públicas, saúde esporte. Para explicar o direito achado na rua, o Profº. Drº. José Geraldo de Souza Júnior, destaca que a rua é o local onde o processo político é visto com ressalvas, consideradas perigosas, local de baderna, lugar de encontros sociais e que urbanizar a cidade é legitimá-la.

Na quarta-feira, 10 de setembro, durante a manhã visitamos o Bosque dos Constituintes, plantado em 4 de outubro de 1988, véspera da promulgação da Constituição Cidadã, que nasce como homenagem aos membros da Assembleia Nacional Constituinte, os quais foram pioneiros ao incluir na CF/88 um artigo inteiramente dedicado à proteção do meio ambiente. Por iniciativa da Câmara dosDeputados o bosque tornou-se Parque Bosque dos Constituintes com a publicação do Decreto Distrital nº 29.641, de 24 de outubro de 2008. Em 4 de novembro do mesmo ano, foi formalmente adotado pela Câmara dentro do programa “Abrace um Parque”, do Instituto Brasília Ambiental do Governo do Distrito Federal. (NERLING & ANDRADE, 2014).

Às 9h tivemos o VI Seminário USP – Comissão de Legislação Participativa – Política, sistema e mecanismos de participação, onde, basicamente, vimos como é o funcionamento de uma comissão, os trâmites pelos quais passam os projetos-lei e os diversos modos de representação desses projetos, seguimos para a simulação do trabalho das comissões, onde discutiríamos a legalização da maconha e da diminuição da maioridade penal, onde tivemos intervenções muito interessantes em conflito, que enriqueceu o debate e chegou a causar fortes emoções em alguns participantes que vivenciaram de perto a violência praticada por menores.

À tarde tivemos o V Seminário USP – Eventos Legislativos do Senado – Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, onde ouvimos, com paixão, o trabalho dessa comissão, que chega a ter um tom de ativismo dentro do governo. Já exausto depois de um dia corrido e com muitas palestras e muita coisa para absorver, retornamos à ESAF finalizando o nosso dia.

Na quinta-feira, dia anterior à nosso retorno à São Paulo, fomos visitar os vitrais da sede, espelho da Federação e tivemos o I Seminário USP- Caixa Federal – Programa CAIXA Melhores Práticas em Gestão Local, baseado no programa de Melhores Práticas e de Lideranças Locais das Nações Unidas, coordenado pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, instituição responsável por ações voltadas para a melhoria dos assentamentos humanos em todo mundo (NERLING & ANDRADE, 2014), seminário no qual vimos basicamente a missão da CAIXA, os objetivos dos programas e suas categorias de foco. Em seguida tivemos o II Seminário USP – Banco Central – Educação fiscal e financeira para a cidadania, onde fomos apresentados a inúmeros programas de educação fiscal desde 1998 à 2013. Fizemos então uma visita à casa da moeda, onde se encontra a maior pepita de ouro do Brasil e seguimos para um almoço e depois ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), cujo foco era o Programa Nacional de Formação Continuada a Distância nas Ações do FNDE – Formação pela Escola, onde, em uma palestra fantástica, fomos convidados a retornarmos àquela instituição como servidores, uma vez que a necessidade é enorme, também tivemos a oportunidade de ouvir um egresso do curso que nos relatou um pouco sobre a relação entre município e FNDE.

À noite o assunto foi pesado, no Ministério da Justiça, mais especificamente no V Seminário USP – Ministério da Justiça – Tráfico de pessoas, política sobre drogas; proteção e defesa do consumidor sustentável. Já exausto, retornamos à ESAF. Na manhã da sexta-feira, dia da nossa partida, junto com colegas, visitei o Memorial JK e a Torre de TV, voltamos para a ESAF, pegamos o ônibus e retornamos à São Paulo.

O retorno.

Certamente entrei naquele ônibus de volta à São Paulo de outra forma, se fui sem saber o que me esperava, voltei com vontade de conhecer mais, ir mais além, foi nos dada a oportunidade de estarmos ali, frente à frente com o Estado e suas políticas, com seu discurso, com sua retórica, jamais irei esquecer do Adalberto Paz, convidando-nos para retornarmos ao FNDE como servidores, ficou clara, em inúmeras palestras e em inúmeras falas a necessidade que esses órgãos tem de Gestores de Políticas Públicas, que não se encostem no Estado a fim de ter segurança salarial, mas sim que trabalhem com amor, como o senhor Adalberto, que gostem daquilo que fazem, é clara a evidência de que os problemas são diários e no curso de graduação somos bombardeados com teorias que relatam problemas e tivemos a oportunidade de ouvir, em cada fala, em cada olhar, a angústia dos problemas da gestão pública no cotidiano, mas a paixão de trabalhar e de querer solucionar tais problemas, não com o egoísmo de que somente eles podem resolver, mas com um discurso que nos remete à colaboração, ao pedido de ajuda em caso de necessidade, o Estado nada mais é do que um lugar onde problemas e soluções se encontram com a ajuda daqueles que amam o que fazem, e para fazê-lo profissionalizam-se, adquirem conhecimento, cultivam seus jardins, como o Pau-Ferro, árvore plantada pelo Dep. Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, no ano de 1988, no Parque Bosque dos Constituintes, a árvore claramente mais volumosa e mais viva do parque, plantada, cultivada e que hoje nos fornece sementes, assim como os artigos da Constituição Federal, para que façamos com que o direito esteja cada vez mais próximo e mais tangível para o cidadão brasileiro para que façamos do Brasil uma nação tão próspera quanto sua árvore, Ulysses. 


Referências.

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BRASIL Supremo Tribunal Federal. Portas Abertas: Programa de Visitação do STF – Praça dos Três Poderes – Brasília DF, 2014. 

NERLING, Marcelo Arno. ANDRADE, Douglas de. A cidade constitucional: Capital da República – VIII Edição. Brasília: Disciplina de graduação da Universidade de São Paulo, ACH 3666, 2014, Mimeo.

domingo, 31 de agosto de 2014

OS e OSCIP: Novas representações de um Estado contemporâneo. Lauro Nunes.

Universidade de São Paulo
Escola de Artes, Ciências e Humanidades

Autor: Lauro Victor Nunes.       NºUSP:7555141.
ACH 3626 – Gestão das Organizações sem Fins Lucrativos
Responsável: Prof. Dr. Marcelo Arno Nerling.

OS e OSCIP: Novas representações de um Estado contemporâneo

A redemocratização brasileira e a promulgação da Constituição Federal de 1988 inauguraram no país a descontinuidade do modelo de Estado centralizador, intervencionista, positivista, autoritário e provedor das principais políticas públicas e políticas sociais, estrutura esta fruto do processo de Bretton Woods e do Pacto Keynesianista. Em substituição a este cenário, a ascensão da economia de mercado e do protagonismo dos atores privados internacionais, alicerçados sob o marco analítico proporcionado pelo neoliberalismo ideológico, incorreu em um processo de reforma da estrutura do Estado, destacando-se uma eminente redução da capacidade político-administrativa antes centrada na figura dos governos. A década de 90 se caracterizava pelo avanço do Estado gerencial, situação esta em que coexistiu um alto nível de privatização, concessão e terceirização dos serviços públicos antes sob responsabilidade exclusiva do Estado com a priorização deste em exercer uma função tipicamente regulatória, visando mensurar a qualidade dos serviços públicos prestados pelo “serviço público não-Estatal”. Ou seja, a provisão de alguns serviços públicos não era desempenhada exclusivamente pelos governos, como na maior parte do século XX, mas também pelos atores privados, sendo eles organizações privadas nacionais ou transnacionais ou até mesmo por grupos de pressão e interesse da própria sociedade civil. 
Neste contexto, cabe ressaltar o fortalecimento das Organizações Não Governamentais (ONG´s) como iniciativas advindas da sociedade, dotadas, na maioria das vezes, de autonomia financeira e administrativa, que forneciam certos bens e serviços públicos à sociedade a preços mais baixos dos que os praticados pelo mercado ou até de forma gratuita. Entretanto, as ONG´s existiam – e ainda existem –  enquanto “fato social”, ou seja, faziam-se presentes e incrementavam no contexto em que estavam inseridas e para a finalidade a qual se propunham, ainda que não estivessem devidamente descritas no regramento jurídico. A livre iniciativa do mercado e da sociedade civil na execução de certos bens e serviços atentou o Estado para a necessidade da formalização destas instituições sociais enquanto “fato jurídico”, estando previstas em lei. Considerando este fato,  ainda na década de 90, pode-se observar a formalização destas atividades  por meio das Organizações Sociais (OS), promulgadas na Lei nº 9637, de 1998, e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), inscritas sob a Lei nº 9790, 1999, também conhecida como “Lei do Terceiro Setor”. É notável que ambas as leis foram aprovadas no mesmo período em que se discutia largamente a necessidade de redução do Estado, seja em sua estrutura burocrática, seja em sua capacidade político-administrativa de prover políticas públicas, o que pode justificar o reconhecimento público, por parte dos governos, da importância de que a prestação de certos bens e serviços, antes sob exclusivo encargo do Estado, fossem então desempenhados por outros atores societais e privados. Desde a década de 1930, o Estado brasileiro já previa em legislação própria o funcionamento de determinadas instituições filantrópicas, fator este que não impediu que tais organizações acima descritas carecessem de uma normatização jurídica mais atual, específica e alinhada às demandas deste setor público não-Estatal. 
A relação jurídica entre estas instituições e o Estado acabou por ser descrita, inicialmente, por uma terminologia imprecisa: convênio. Entretanto, esta nomenclatura é válida legalmente apenas para parcerias entre os entes governativos, considerando o modelo federalista brasileiro, caracterizado pela União, pelos estados e pelos municípios. No caso da relação entre o setor público e as OS, têm-se um contrato de gestão, e com as OSCIP, um termo de parceria. SPINK (2002), ao analisar os dados obtidos com o Programa Gestão Pública e Cidadania em sua relação com o contexto municipal no Brasil, descreve que a importância de se estabelecerem parcerias e alianças do setor público com tais organizações não-Estatais advém da necessidade de se conseguir “recursos que de outra forma seria difícil de se obter” (p.146) e que podem garantir maior sucesso na formulação e implementação das políticas públicas de interesse coletivo. Complementando tal hipótese, o mesmo autor  trata estas coalizões como um processo de alavancagem, situação em que se tem “a utilização de oportunidades e recursos para fazer mais do que é possível fazer sozinho” (p.147), sendo que esta relação entre o público e o privado visando atingir o mesma finallidade social pode ser relatada como uma janela de oportunidade democrática em que se somam recursos físicos, financeiros e expertises  para que as políticas públicas atinjam um positivo nível de eficiência e eficácia e, principalmente, sejam efetivas, considerando o conceito de efetividade como que mudança ou transformação social esta ação política foi capaz de produzir na sociedade, considerando o período temporal de médio, longo e longuíssimo prazo. 
Por fim, cabe aqui ressaltar que o reconhecimento público, por parte do Estado, da personalidade jurídica das organizações não-Estatais, OS e OSCIP, pode ser descrito como um meio de indução à participação social na gestão pública, diretriz esta constante no processo de reforma do Estado burocrático brasileiro, bem como no marco teórico-analítico da Nova Gestão Pública. Ainda que esta relação entre o público e o privado na provisão de políticas públicas mereça ser revista em alguns aspectos, como, por exemplo, a discussão a respeito de que certas imunidades e isenções, ainda validadas tão somente aos equipamentos essencialmente públicos, possam ser estendidas às entidades do Terceiro Setor, ajuste legal este que seria capaz de produzir uma real externalidade positiva ao orçamento destas instituições, no geral, observa-se uma clara possibilidade de que tais iniciativas permaneçam coexistindo com o setor público brasileiro, aprofundando-se certas discussões legais que permitam sua sustentabilidade de gestão.

Referências

NERLING, Marcelo A. Plano de trabalho: “Gestão das Organizações sem Fins Lucrativos”. São Paulo, EACH-USP: ACH3626, Gestão de Políticas Públicas, Material didático de graduação, 2014, Mimeo.  

SPINK, Peter. Parcerias e alianças com organizações não-estatais. In: SPINK, P.; BAVA, S.; e PAULICS, V. Novos contornos da gestão local: conceitos em construção. São Paulo: Instituto Pólis, Programa Gestão Pública e Cidadania/ FGV-EAESP, 2002. 

sábado, 16 de agosto de 2014

Os "porquês" de Zequinha.

Lembram-se do fatídico personagem do Castelo Ra-Tim-Bum, que enchia a paciência das demais personagens quando perguntava o porquê de algo e era respondido com "Por que sim, Zequinha!"? Com a exposição do MIS me animei a assistir alguns episódios da série que me marcou quando criança, onde eu não só aprendia com as respostas do Telekid (praticamente um Google infantil!), mas com todo enredo voltado sempre a um assunto específico, pois bem, quando olho Zequinha questionando os acontecimentos, volto a minha própria infância, como uma criança super questionadora, que adorava conversar sobre as várias coisas não compreendidas por mim, que fazia os adultos encontrar respostas que me calassem, por que chega uma hora que cansa, né? E aqui eu entro com: Não, não devia cansar.
Uma criança cheia de porquês é um cidadãozinho interessado sobre as coisas que estão ao seu redor, tudo pra ele aqui é novo, e dos adultos, há a necessidade do papel de quebrar a hierarquia de sabichão e tentar encarar aquele serzinho como alguém que está tentando entender o que um dia você mesmo possivelmente não entendeu.
Não me surpreende o fato de que uma criança, ao longo dos anos, pergunte menos "porquês", lógico, se essa atitude não é apoiada, a criança a perderá com o tempo...
É triste saber que, como seres humanos, acabamos por calar crianças todos os dias com respostas secas e imposições, fazendo com que aquele ser que está aprendendo a viver se canse de tentar entender os porquês, acomoda-se...
Penso em qual adulto essa criança irá se tornar, e aqui eu não me refiro nem ao papel da escola, mas o papel dos próprios pais, entender por que suas crianças perguntam tanto, incentivá-las a questionar cada vez mais o mundo sem que você jogue seus conceitos e pré-conceitos encima dela, é torná-la cada vez mais cidadã, consciente, participativa, sem haver aquela alienação que normalmente os pais acabam por fazer por que "é mais fácil". 
Enquanto criar um ser humano for fácil, o mundo ainda será um lugar muito difícil.