terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Experiências de desrespeito.



Devo concordar com inúmeros colegas quando estes me dizem: poucos são aqueles que tem a sensibilidade de compreender como é vivenciar uma experiência de desrespeito por não terem vivenciado. E de fato, inúmeras vezes tive a experiência de viver um ato desrespeitoso, ter sido abraçado, ouvido: estamos com você, e na hora "H" lá estava eu sozinho enfrentando o preconceito. A pergunta que se faz é: quem realmente está conosco?!

Primeiramente vamos dar nomes aos bois, quando digo experiências de desrespeito, trato de preconceitos, sejam eles racismo, homofobia, transfobia, xenofobia, aliás, como o atual caso da Charlie Hebdo com a questão da "liberdade de expressão" usada pra difamar aspectos culturais de outros povos, claro que nada justifica a violência empregada, mas acho que o mundo hoje nos permite traçar limites da questão da liberdade de expressão, como diria o MovieBob: "Liberdade de expressão, como conceito legal, apenas garante o seu direito de falar. Não garante o direito de ser ouvido, não garante o direito de concordarem com você, e com certeza não garante que o que você diz não pode ser criticado pela fala de outra pessoa. Mais importante de tudo, não significa que você não vai sofrer as consequências caso sua liberdade de expressão seja usada para assediar ou difamar alguém. E isso é exatamente o que é dizer coisas racistas, homofóbicas e sexistas. ISSO NÃO É CENSURA. ISSO É JUSTIÇA. " - Bob Chipman "Moviebob", e milhares de outras formas de preconceito.

E agora eu faço outra pergunta: Se entre os nossos não há quem nos abrace de fato apesar do discurso progressista (lembrando que ainda no final do século XIX muitos progressistas aceitavam o racismo científico, mas aqui trato daqueles, como diria o popular, os "prafrentex"), quem garante que o Estado está ao nosso lado? O Estado não vive somente de discursos, ele vive de ação, assim como seus colegas que discursam belamente dentro da sala de aula, além do belo discurso progressista, tem-se a necessidade de agir conforme aquele discurso proferido, caso contrário, o que ele disse vira quase que uma metáfora, e assim são as políticas do Estado, se há leis que punem o racismo no Brasil, falta estrutura, não para punir, mas para de fato fazer justiça (tentei não usar esse termo mas se não usá-lo terei que expor muita coisa que ainda preciso aprofundar mais e futuramente publicar), e quando digo que falta estrutura, não digo que faltam estruturas físicas ou burocráticas, mas sim consciência, sensibilidade, visão. Afinal, o racismo não é palpável muitas das vezes, ele faz parte de uma grande estrutura social que se expande do ceio familiar ao próprio Estado, por que não? Não digo que o Estado seja racista, digo que há ainda mecanismos que impedem que o racismo seja de fato percebido dentro do Estado, fazendo com que o mesmo aja, muitas vezes sem a mínima consciência, de forma excludente, separatista...Ou de forma consciente também, sei lá. O Estado é feito por pessoas, instituições são feitas por pessoas e representadas pelas mesmas, se na estrutura do Estado ou de suas instituições há representantes racistas, suas ações serão racistas, caso haja um representante que não é sensível às experiências de desrespeito e às consequências de sua atitude - ou falta de atitude, como Bachrach & Baratz destacam a importância das "não decisões", a instituição irá cometer seus erros e irá praticar ações de desrespeito.

Por essas e outras acredito que cada vez mais gestores de políticas públicas devem estar sensíveis às consequências de suas atitudes, por que não é a assinatura de um papel somente que muda o futuro de milhares de pessoas, sem conhecer a população, sem estar sensível às suas demandas, sem ir a fundo nas questões do preconceito e nas consequências de se agir de modo preconceituoso, continuaremos a ter um Estado que só fala em Igualdade, não pratica a Liberdade e cospe Fraternidade àqueles que tem seus privilégios resguardados.

Helton.


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